sábado, 19 de maio de 2007

TODO DISLÉXICO É MAU LEITOR, MAS NEM TODO MAU LEITOR É DISLÉXICO

Dislexia e mau leitor: As diferenças
Vicente Martins
Para psicólogos, psicólogos e educadores lingüistas um dos gargalos para o diagnóstico e tratamento das dificuldades específicas de leitura, no ambiente escolar, reside na compreensão de conceitos básicos e operatórios como “dislexia” e “mau leitor”. Como saber a diferença que há entre a criança que apresenta dislexia e a criança é um mau leitor?
A dislexia é uma síndrome de origem neurológica. Pode ser genética (desenvolvida) ou adquirida (depois de acidente vascular cerebral ou AVC). O disléxico é potencialmente um mau leitor, embora consiga ler. O disléxico lê, mas lê mal, sua leitura é lenta e sofrível. Só um neurologista, a rigor, tem a competência técnica, em equipe multidisciplinar juntamente com psicólogos e pediatras, para afirmar se uma criança é ou não disléxica.
A dislexia é, pois, uma síndrome para atendimento médico, embora não se trate de uma doença. Para os educadores, o que inclui pedagogos, psicopedagogos e profissionais de ensino, o que se entende por dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de leitura (DAL). Venho denominando de dislectogenia essa dislexia dita pedagógica.
Assim, poderíamos dizer que todo disléxico é realmente um mau leitor, mas nem todo mau leitor é disléxico. Uma má leitura não deve ser uma indicação final para o reconhecimento do mau leitor, mas é uma pista preciosa para o diagnóstico do disléxico.
Nos meus estudos, tenho levantado a hipótese de um déficit lingüístico para a dislexia, o que me levaria, ainda, a um tipo de dislexia ou dislectogenia, a pedagógica, responsável, no meu entender, pela maioria dos casos no meio escolar, resultado da dificuldade que o aluno tem, durante a leitura, de fazer a correspondência grafema-fonema, isto é, de fazer a correspondência adequada do grafema, ou letra, ao fonema, ou som da fala.
É, nesse caso, que se encontra o verdadeiro mau leitor, que deixa de fazer uma boa leitura porque aprendeu a ler mal, porque a metodologia de ensino de leitura (global ou sintética) foi mal aplicada.
Um exemplo bem típico de dislexia pedagógica ou lingüística pode ser percebido a partir desse relato de dificuldades do filho feito pela mãe.
Relata-me a mãe o seguinte: tem um filho de 5 anos. Seu pai é músico. Conta-me que seu filho aprende com muita facilidade músicas, até a parte instrumental, mas tem muita dificuldade em apreender a escrever seu próprio nome. Quanto tenta escrever o nome, segundo a mãe, escreve o U virado pra baixo o S ao contrário e sua fala já se apresentam também dificuldades de compreenção de sua fala pela própria família.
Ainda no relato, diz a mãe que a criança, antes, falava corretamente e, agora, apresenta dificuldades de fala e também costuma usar ambas as mãos para fazer as atividades escolares. Às vezes utiliza a mão esquerda; outras, a direita, e tem muita dificuldade de apreender coisas simples, e sente muita “preguiça” a maioria das vezes para cumprir os deveres escolares. Pelo que lemos do relato, observamos que os sintomas de dificuldades de aprendizagem de lectoescrita (leitura e escrita) são de diversas ordens: distúrbios de rotação grafêmica (U virada pra baixo e S ao contrário) e de fala (incompreensiva).
A dislexia pedagógica acumula uma série de déficits que, claramente, afetam outras habilidades como fala, escrita e audição. Aos 5 anos de idade, portanto em processo de alfabetização, os métodos da escola parecem não atender às grandes expectativas dos pais quanto à alfabetização, o acesso ao código escrito, e ao letramento, isto é, aos usos sociais da escrita no cotidiano escolar.
Minha desconfiança, por exemplo, é que o método global, bem a gosto da maioria das escolas brasileiras, tem favorecido no Brasil o aumento de maus leitores.
Sobre o autor:
Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), de Sobral, Estado do Ceará

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