Educação
Sábado, 10 de novembro de 2007, 20h16
Tema de novela, dislexia afeta 5% das pessoas, diz educador
De volta à pauta de discussão após virar tema da novela Duas Caras, com a personagem Clarissa, da atriz Bárbara Borges, a dislexia é um problema que afeta cerca de 5% da população, informa o educador Vicente Martins, professor de lingüística da Universidade Estadual Vale do Acaraú, e uma das autoridades brasileiras no assunto. Mas para ele, a solução é simples e o acompanhamento pedagógico pode ajudar o portador da dislexia a conviver com o problema.
"A dislexia é uma síndrome, e não tem cura. Não é uma doença, não é uma patologia e não é um distúrbio", explica. Martins esclarece que há dois tipos de dislexia: a desenvolvimental, de origem genética, e a adquirida, resultado de alguma lesão cerebral, principalmente no hemisfério esquerdo.
Martins destaca que quanto antes for detectada a dificuldade, mais fácil será o tratamento. Ele aponta que alguns dos sinais que podem mostrar sinais de dislexia numa criança, são a leitura sofrível, a dificuldade em transformar os sinais da escrita em sons orais; a falta de sensibilidade à rima; e o atraso na fala. Nesse último ponto, Martins avisa que se a fala se der no fim da primeira infância (que vai dos 0 aos três anos) pode haver um indicativo de dislexia.
Já a dislexia adquirida ocorre quando uma lesão cerebral atinge principalmente o hemisfério esquerdo, o responsável pela leitura e pela memória. "Nesses casos não há o que fazer além de um tratamento clínico de fato."
Mais sintomasA dislexia desenvolvimental tem origem genética. Martins cita o projeto Genoma e diz que nesta pesquisa foi identificado o cromossomo 22 como o responsável pela dislexia. É o mesmo cromossomo que está ligado também à diabete e ao Mal de Alzheimer.
Ele destaca a importância dos pais na hora de identificar esse problema. "A dificuldade para nomear os objetos é uma sinal. Se a criança usa muito a palavra 'coisa' para se expressar; a persistência no erro e a dificuldade para grafar letras, principalmente minúsculas como o P,B,Q e D que tem sua grafia parecida. Todos esses são sinais de dislexia."
"Esse problema torna-se grave quando afeta a fala. Então, a criança começa a falar 'cato', por exemplo, quando quer se referir a um 'gato'." Mas Martins alerta ainda para o comportamento da criança disléxica. "Normalmente essa criança é mais agressiva com professores e pais. Ela tem momentos de mudez e de isolamento." Segundo ele, essa agressividade é fruto do fracasso da criança em atividades corriqueiras como a leitura.
TratamentoMas o educador - que também sofre de dislexia desenvolvimental - não é muito otimista quanto ao preparo das escolas e professores para trabalhar a criança com dislexia. "A escola e os professores não estão preparados. Os pais então acabam procurando um profissional da área de saúde, e muitas vezes isso leva a um mercantilismo do problema."
Para ele, a solução é simples e o acompanhamento com um bom professor seria o suficiente para driblar essa dificuldade. Um dos pilares do tratamento, segundo Martins, é o treinamento da memória. Ainda assim, seria necessário um maior empenho do governo nesse sentido. "A Lei de Diretrizes e Bases prevê a dislexia de forma correta, como uma necessidade educacional especial." Mas para Martins, na prática, as escolas em geral não estão preparadas para essas dificuldades.
Dislexia na TVApesar de ter despertado o interesse, não é a primeira vez que a dislexia é tema de novela. Apesar de elogiar a iniciativa do autor de Duas Caras, Aguinaldo Silva, Martins faz ressalvas quanto à abordagem do assunto na trama das oito. "Eu vejo um certo equívoco nessa novela. Ela passa uma idéia de incapacidade."
Martins lembra a novela Sabor da Paixão, escrita por Ana Maria Moretzsohn, da qual ele foi consultor técnico e cujo personagem disléxico, vivido por Pedro Paulo Rangel, ganhou o nome de Vicente. "A autora me perguntou o que fazer no tratamento e eu a mandei comprar cartilhas. Como ela não achou, eu enviei algumas dessas cartilhas que são vendidas em mercados. Fidel Castro alfabetizou Cuba assim. E não me fale que Cuba não é uma potência no que se refere a educação", finaliza.
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